O envelhecimento populacional brasileiro é uma realidade presente na rotina de atendimentos dos profissionais de saúde, que auxiliam os pacientes idosos a lidarem com as modificações naturais e decorrentes de hábitos de vida trazidas por essa fase.
Um dos possíveis desdobramentos dessas modificações é a alteração dos hábitos alimentares, da quantidade e da variedade de alimentos consumidos, levando ao maior risco de perda de massa magra e desnutrição1,2.
As evidências atuais sugerem que os idosos precisam de um aporte proteico maior do que os adultos jovens para garantir a preservação da massa muscular, funções corporais e saúde1. Assim, tendo em vista que a prevalência de desnutrição em idosos domiciliados é de 1% a 15% e, para os idosos institucionalizados, de 25% a 60%2, investir em acompanhamento e estratégias nutricionais é de suma importância.
A importância do consumo adequado de proteína para os idosos
Uma das questões geriátricas mais comuns é a sarcopenia, caracterizada pela perda progressiva da força e da massa muscular2,3. É um problema de saúde global preocupante, que afeta de 5 a 17% dos indivíduos com idade entre 60 e 70 anos e até 50% dos indivíduos com mais de 80 anos4.
A sarcopenia impacta na qualidade de vida da população idosa, uma vez que pode levar à fragilidade e dependência devido à dificuldade para realizar tarefas do dia a dia, além de maior risco de quedas, fraturas e acidentes2,3.
Dessa forma, uma boa nutrição e um aporte proteico adequado auxiliam a limitar e tratar os declínios funcionais relacionados à mudança da composição corporal com a perda de massa muscular ao longo do processo de envelhecimento2.
A recomendação de ingestão proteica para idosos é de 1,0 a 1,2 g/kg de peso corporal por dia, ajustada individualmente de acordo com o estado nutricional, nível de atividade física e condição de saúde do indivíduo1,2. Existem na literatura dados que indicam que a baixa ingestão proteica (menor que 1 g/kg/dia) está associada à maior mortalidade nesse grupo populacional1,2,4.
Para idosos com alguma doença pré-estabelecida, a ingesta proteica pode ser otimizada devido ao processo inflamatório, presença de feridas ou infecções. Nesses casos, é sugerida a ingestão diária de 1,2 a 1,5 g de proteína/kg para idosos com doenças crônicas, podendo chegar a 2,0 g/kg em casos de doenças graves ou desnutrição1,2.
Dificuldades alimentares e estratégias nutricionais na terceira idade
Como falado no início, o processo de envelhecimento está relacionado a diversas modificações fisiológicas naturais, e dentre elas podemos citar: esvaziamento gástrico mais lento, alterações neuroendócrinas associadas à redução do apetite e saciedade precoce, alterações no olfato e paladar e prejuízos na capacidade de mastigação e deglutição, como perda de dentes, redução da produção de saliva e disfagia2,5.
Por isso, é comum que o consumo alimentar se modifique ao longo dos anos, com o idoso optando por alternativas mais fáceis de mastigar e engolir, com texturas mais leves e que não causem desconforto, mas que podem ter uma composição proteica aquém do ideal2,5. A consistência e a qualidade da proteína, assim como o momento de ingestão são fatores a serem considerados para otimizar os benefícios com a ingestão proteica nesta faixa etária6. A seguir, listamos alguns dos principais pontos a serem levados em consideração como estratégia nutricional para este público2,6:
- Incluir opções de alimentos de acordo com as preferências e aversões do indivíduo;
- Avaliar a textura ideal para a capacidade de deglutição, sempre explorando as características sensoriais dos alimentos;
- Incentivar o consumo diário de diferentes alimentos fontes de proteínas animais e vegetais;
- Priorizar o consumo de ovos, leite e derivados no café da manhã e lanches intermediários;
- Optar por alimentos fontes de proteínas vegetais (leguminosas) e animais (carnes e ovos) no almoço e jantar;
- Realizar refeições frequentes, completas e distribuídas a longo do dia. O fracionamento pode ser uma estratégia relevante em casos de inapetência ou disfagia;
- Incluir suplementos proteicos, de acordo com a necessidade individual e avaliação nutricional.
Uma vez que até mesmo o idoso saudável pode apresentar modificações no ato de deglutir, levando à preferência por alimentos em consistência pastosa ou líquida, o uso de suplementos pode auxiliar no aporte proteico diário, devido à maior concentração de proteínas de alta qualidade, palatabilidade e praticidade2,5. A suplementação é indicada nos casos em que há ingestão insuficiente de alimentos, em doses entre 25 e 30 g de proteína por refeição, considerando as necessidades nutricionais do indivíduo2.
A proteína do soro do leite (whey protein) é uma alternativa de alta digestibilidade e absorção, fornecendo aminoácidos capazes de estimular o anabolismo do músculo esquelético2. Por ser encontrada em versões líquidas e em pó, pode ser facilmente adaptada para consumo em diversas consistências, trazendo praticidade para a ingestão proteica e permitindo variedade de preparações.
A evolução da sarcopenia pode ser freada por meio da ingestão proteica adequada, por isso, é importante garantir a ingestão de proteínas de alto valor biológico e fontes de aminoácidos essenciais, como a proteína do soro do leite6. A avaliação da ingestão proteica, assim como acompanhamento nutricional e estratégias nutricionais assertivas são essenciais para garantir a saúde e possibilitar que o idoso desfrute dessa fase com a preservação de seu bem-estar e qualidade de vida.