Os profissionais nutricionistas sabem da importância do equilíbrio intestinal, já que o mesmo reflete na saúde do indivíduo como um todo, e por isso, a saúde do intestino acaba sendo foco do atendimento nutricional em muitos casos.
No entanto, algumas condições podem afetar essa importante parte do organismo, fazendo com que haja impactos significativos em aspectos físicos e emocionais do paciente.
Um dos quadros que pode afetar o intestino é a Síndrome do Intestino Irritável (SII). De diagnóstico nem sempre simples e sem um consenso para seu tratamento, essa condição exige que o nutricionista tenha um olhar individualizado para o paciente, orientando-o conforme os sintomas e estilo de vida.
Assim, adiante serão abordados o diagnóstico e principais dessa síndrome, bem como as possíveis condutas nutricionais para estes casos.
Diagnóstico e principais sintomas
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é definida como uma doença gastrointestinal funcional, caracterizada por dor e desconforto abdominal, associados à alterações no trânsito intestinal e outros sintomas que serão abordados adiante.¹
Atualmente, estima-se que a SII atinja de 10 a 20% da população mundial, sendo mais prevalente entre as mulheres. Essa prevalência pode estar subestimada, visto que os sintomas da SII podem ser facilmente confundidos com outros quadros gastrointestinais. No mais, entende-se que, em muitos casos, o diagnóstico é feito por exclusão, principalmente com outras desordens inflamatórias do trato digestivo. ¹⁻²
Os critérios de Roma IV são utilizados para auxiliar nesse diagnóstico, sendo eles:²
- Dor abdominal recorrente e que se associa com a defecação e a mudança do hábito intestinal, tipicamente se apresenta por constipação, diarreia ou uma combinação de ambos alternadamente
- Início dos sintomas deve ter ocorrido há pelo menos 6 meses e ter estado presente durante os últimos 3 meses
Além desses critérios, a realização de exames laboratoriais, como hemograma, proteína C reativa, exame parasitológico e de sangue oculto nas fezes, são de fundamental importância para o diagnóstico, pois permitem descartar hipóteses de ocorrência de outras patologias.²
Em relação aos sintomas mais comuns relatados por portadores dessa síndrome estão:²⁻³
- Inchaço abdominal
- Alteração nas fezes (frequência e aparência)
- Eliminação excessiva de gases
- Sensação de evacuação incompleta
- Presença de muco nas fezes
Estratégias nutricionais na SII
A conduta nutricional em casos de SII deve ser feita de maneira individualizada e de acordo com a gravidade do quadro, também devendo-se considerar os hábitos e restrições do paciente.
Apesar de não haver consenso, algumas estratégias nutricionais têm se mostrado eficazes no manejo desse distúrbio, sendo 2 delas: utilização de probióticos e a dieta com teor reduzido de FODMAP.
Probióticos
Considerando que o desequilíbrio da microbiota intestinal pode contribuir para a patogênese da SII, há evidências que a inserção desses microrganismos na alimentação pode ter efeitos benéficos no controle dos sintomas.⁴
Os estudos têm demonstrado que probióticos com múltiplas espécies apresentam melhor efeito quando comparados ao uso de placebo ou mesmo de probióticos contendo uma única espécie. ⁴
Além disso, verificou-se em algumas pesquisas que determinados tipos de cepas podem ter atuação em diferentes tipos de sintomas da SII. Por exemplo, a utilização de produtos com espécies de Lactobacillus atuaram no alívio da flatulência e da dor abdominal. Já os que possuíam Saccharomyces puderam reduzir a sensação de distensão abdominal, e, por fim, o uso de produtos contendo Bifidobacterium contribui com a questão de urgência fecal. ⁴
Dieta com baixo teor de FODMAP
A sigla FODMAP significa uma dieta à base de carboidratos de cadeia curta, sendo que a letra F representa os alimentos fermentáveis, a O representa os oligossacarídeos, D são os dissacarídeos, M são os monossacarídeos e P os polióis, que são álcoois de açúcar. ²
Para pacientes com SII, a recomendação é que se realize uma dieta com baixa ingestão de FODMAP, uma vez que esses tipos de alimentos são pouco absorvidos pelo intestino, além de causarem alta atividade osmótica e rápida fermentação por bactérias intestinais, podendo provocar dor e diarreia. ²⁻³
É importante ressaltar que a contribuição de desses carboidratos varia entre grupos étnicos e dietéticos, devido à dose fornecida na dieta habitual de cada população – por isso, aqui novamente é essencial lembrar da importância da individualização das condutas nutricionais, bem como profundo conhecimento do contexto no qual esse paciente está inserido. ³
Abaixo segue tabela com as principais fontes alimentares de FODMAP, e algumas alternativas para substituir esse consumo:

A Síndrome do Intestino Irritável mostra-se uma patologia desafiadora para os profissionais de saúde envolvidos no cuidado desses pacientes. No entanto, é notável que a nutrição é uma ferramenta essencial para controle dos sintomas e manejo do quadro, podendo proporcionar assim uma melhor qualidade de vida.