O processo de envelhecimento está relacionado a diversas modificações fisiológicas naturais que vão gradativamente modificando o modo de vida do indivíduo.
Algumas dessas mudanças envolvem comportamentos simples do dia a dia, como a alimentação: ocorrem alterações no olfato e paladar, prejuízos na capacidade de mastigação e deglutição, esvaziamento gástrico mais lento e alterações neuroendócrinas associadas à redução do apetite e saciedade precoce1.
Assim, todo esse contexto pode afetar diretamente tanto na qualidade da alimentação quanto no estado nutricional do idoso, que deve ser acompanhado de perto por um profissional de saúde para evitar deficiências2.
Dificuldades no consumo de fibras
As fibras alimentares são uma categoria de componentes dos alimentos que vem sendo amplamente investigada em relação a seus efeitos no organismo em todas as fases da vida. Elas diferem entre si de acordo com seu nível de solubilidade, viscosidade e capacidade de fermentação pela microbiota intestinal1,3, podem proporcionar diversos benefícios à saúde3, tais como:
- Auxiliar na manutenção e perda de peso;
- Aumentar a saciedade;
- Evitar a constipação intestinal;
- Reduzir a glicemia de jejum ou pós-prandial;
- Modular a microbiota intestinal.
A ingestão de fibras alimentares, está associada à redução de risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, obesidade, câncer colorretal, síndrome do cólon irritável, entre outras3.
No entanto, atualmente, a ingestão média de fibras alimentares pela população brasileira é insuficiente, sendo inferior a 50% da recomendação preconizada, que é de 25g/dia4,5.
Especificamente entre os idosos, há dados de que o consumo também fica aquém das recomendações, com ingestão de apenas 12,5g/dia em idosos de 65 a 89 anos3,6. Uma vez que a população idosa é mais suscetível a disfunções gastrointestinais como constipação ou diarreia, é de extrema importância um olhar cuidadoso na prática clínica para ajustar a ingestão desse nutriente por este público5.
As diversas alterações anatômicas e fisiológicas que levam à dificuldade de mastigação e deglutição contribuem para a redução do consumo de alimentos ricos em fibras. Alimentos mais duros e fibrosos rotineiramente são substituídos pelos menos consistentes ou por opções mais práticas e mais palatáveis, mas com menor teor de fibras1,7.
Como otimizar a ingestão de fibras – orientações na prática clínica
Diante às dificuldades apresentadas e à importância das fibras alimentares, é de suma importância a atuação na prática clínica para otimizar a ingestão de fibras na população idosa.
Primeiramente, é válido avaliar o consumo habitual, o contexto de vida (se é um idoso institucionalizado, por exemplo) e identificar as possíveis causas da baixa ingestão.
O incentivo a uma alimentação saudável, variada e equilibrada, assim como atividades de educação nessa faixa etária são de suma importância. Levando em consideração que a mudança de hábitos pode encontrar resistências, realizar atividades educativas lúdicas e respeitar as preferências e a cultura é essencial.
Entre os alimentos que podem estar presentes no dia a dia dos idosos, pode-se citar: cereais integrais (aveia, quinoa, milho, trigo, centeio), frutas, verduras, legumes e leguminosas3.
O consumo de uma porção de 30g de cereais integrais por dia é suficiente para reduzir o risco de mortalidade por algumas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Com um consumo superior, de 90g ao dia (3 porções), a redução de risco ocorre para a maior parte das DCNT3. Para maior variedade na alimentação, esse consumo pode ser atingido com uma mistura de alimentos fontes de fibra, como 3 colheres de sopa (60g) de arroz integral + 2 colheres de sopa (30g) de aveia em flocos8.
Uma vez que até mesmo o idoso saudável apresenta modificações no ato de deglutir, as quais levam a uma menor eficiência funcional no processo de deglutição7, a adequação de consistência da alimentação pode ser necessária.
Caso haja necessidade de adaptação da consistência da dieta para texturas pastosas ou liquidificadas, o cuidado com a exclusão das fibras deve ser feito, com alguns pontos a serem levados em consideração:
- Evitar coar as preparações após liquidificadas, para preservar as fibras alimentares;
- Adicionar suplemento de fibras às preparações, de acordo com avaliação nutricional individual.
A adequação no teor de fibras na alimentação dos idosos é um assunto de grande relevância para a prática clínica, pois atua de forma preventiva evitando o surgimento de doenças crônicas e complicações gastrointestinais. Um acompanhamento multiprofissional é fundamental para garantir a adesão às estratégias nutricionais, contribuindo para sua qualidade de vida do idoso em longo prazo.